sábado, 26 de setembro de 2009

O que os ateus têm contra Deus?

Essa pergunta já deve ter passado pela cabeça de muitos teístas. E a resposta depende muito da definição dada a esse deus.

Neste post me atenho a Deus, o deus cristão, mas não é difícil estender minha posição para que se aplique a quaisquer divindades.

Normalmente o teísta não para para pensar e dar uma definição estrita ao que venha a ser Deus, ele simplesmente crê naquele ser, conforme ele vai sendo pintado pela sociedade. No entanto, para nós ateus, que estamos isentos de influências religiosas, definir Deus se mostra bastante necessário.

Como ateus, não cremos na existência, para além da imaginação daqueles que creem, de qualquer divindade. E dada a nossa posição isenta, não temos problemas em incluir demônios e alguns outros seres supostamente advindos de além-mundos na nossa definição de divindade. Portanto, não seria correto dizer que não cremos em Deus, mas adoramos ao Diabo, como muito se fala dentre alguns grupos teístas. Para nós ateus, Deus e o Diabo são ambos divindades, antagônicas, mas ainda assim pertencentes ao mesmo grupo.

A definição de Diabo dentre as religiões cristãs não varia muito. Basicamente é dito ser um anjo revoltoso que por desafiar Deus foi banido do paraíso, fundou o inferno e hoje vive de torturar eternamente as almas daqueles por Deus rejeitados, além é claro de influenciar negativamente o comportamento dos vivos. Sei que tal definição não é oficial, e deve variar de igreja pra igreja, mas de modo geral, não passa longe disso.

Já quanto a Deus, como digo no meu perfil aqui do blog, tive uma extensa formação católica, onde me foi ensinado que Deus seria um ser bondoso e piedoso. No entanto ouvi muito daqueles que me cercavam que tal Deus um dia julgaria a todos nós, e condenaria muitos a uma pena eterna, não importando o tamanho de seu erro. Ou se seria gratificado com a maior das dádivas, a entrada no Paraíso, ou se seria condenado à maior das punições, o tormento eterno no Inferno. Isso nunca me soou muito justo para um ser dito tão bondoso e piedoso.

Vez ou outra me falavam também da existência de um meio termo, um tal de Purgatório, ainda mais mal definido que o Paraíso e o Inferno, mas que daria àqueles cujos erros não foram assim tão graves, uma chance de se redimir, ou algo do tipo. Isso já me soava melhor, já que eu me considerava merecedor do Paraíso mas sentia pena daqueles que não o mereciam mas ainda assim não precisavam sofrer eternamente por isso.

Apesar da dúvida quanto à existência ou não do Purgatório, o Deus acima me parecia agradável, já que eu não me via dentre os condenados. Porém conforme fui amadurecendo, percebi que ainda assim uma condenação eterna, não seria justa a ninguém. Para mim, o justo aos condenados seria uma 'pós-vida' regada a privações, conforme a gravidade de seus erros, mas acompanhada de um curso de reciclagem, o qual prepararia os pecadores para serem aceitos no paraíso, pondo fim ao seu tormento assim que se mostrassem merecedores. Infelizmente nenhuma religião cristã, ou de qualquer outro segmento que eu conheça, emprega tal processo penal.

Isto seria algo que eu teria contra Deus se acreditasse que ele existe: o seu caráter não tão justo e piedoso como inicialmente me pintaram.

Mas esse foi o melhor Deus que me apresentaram. O pior infelizmente tem ganhado cada vez mais terreno.

O outro Deus cristão, que cada vez mais é defendido pelos teístas, em especial os evangélicos, seria um Deus guerreiro, impiedoso, cruel, invejoso e ditador, conforme apresentado no Velho Testamento,  mas que seria infinitamente amável e justo com aqueles que o seguissem como seu único senhor*, numa relação literalmente servil, se não escravagista, onde aqueles que não se submetessem, sendo bons ou maus, justos ou injustos, seriam cruelmente torturados, por toda a eternidade.

Bom, esse Deus eu realmente não quero pra mim.

* Isso hoje, porque pelo que me consta, quando Ele deu as caras, só lhe interessava salvar o chamado povo escolhido, os Hebreus, descendo o cacete nos inimigos de tal povo.

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

A Conjectura de Goldbach e o Paradoxo de Russell

Nestes últimos anos debatendo o tema religião, vez ou outra recorri a duas referências matemáticas que considero fantásticas: A Conjectura de Goldbach e o Paradoxo de Russell*.

Neste post apresentarei de forma resumida essas duas referências, uma vez que é bem provável que eu as utilize futuramente neste blog.

A Conjectura de Goldbach é um dos grandes problemas não resolvidos da matemática. Apesar de ser muito simples entender o problema proposto, sua efetiva demonstração provavelmente nunca virá. Tal conjectura afirma que:

- Todo inteiro par maior que 2 pode ser expresso como a soma de dois números primos.

Como eu disse, um problema muito simples. Aparentemente óbvio. Desafio o leitor a pensar em qualquer numero par maior que dois e tentar encontrar dois números primos cuja soma seja o número pensado. Provavelmente você conseguirá. E se continuar tentando, em breve concluirá que tal conjectura deve de fato ser verdadeira, já que o foi para todos os testes que fizera.

No entanto, para fins de demonstração formal, toda e qualquer possibilidade deve ser verificada. Obviamente não é possível testar todos os infinitos inteiros pares, e ainda que fosse, essa não seria a melhor maneira de demonstrar a veracidade de tal conjectura. Tal demonstração, assim como a maioria das demonstrações matemáticas, deve ser realizada através da aplicação de argumentos lógicos, como axiomas, postulados, lemas e teoremas.

Em suma, por mais óbvia que possa parecer, a Conjectura de Goldbach ainda não pôde ser comprovada.

Já o Paradoxo de Russell é um tanto mais complexo de se entender. Recomendo a leitura deste artigo para mais detalhes, mas resumidamente posso dizer que o que Bertrand Russell notou, foi que:

- Caso definamos o conjunto M como sendo o conjunto de todos os conjuntos que não contém a si mesmo como membro, concluiremos tanto que M está, quanto que M não está contido em si mesmo.

Ilustrando:
M=\{A\mid A\not\in A\} M \in M \  ou \ M \not\in M \ ?

Respire um pouco. Esse realmente é difícil de entender, até por que estou omitindo os detalhes. Não vou lhes entregar tudo de graça.

Mas assim sendo, como pode a lógica pura levar a duas conclusões completamente opostas? Estaria a lógica errada? Que explicação podemos dar a esse fato? Há alguma explicação? Ou devemos simplesmente fingir que nunca lemos isso. Que isso nunca aconteceu?

Há sim uma explicação. A explicação, de forma simplista, é que a definição do que vem a ser um conjunto, utilizada até então, não era uma boa definição. Tratava-se de uma definição inconsistente, pois permitia a elaboração de teorias absurdas como esta.

Qual a solução encontrada para o caso? Na verdade foram propostas várias soluções. Basicamente alterando a definição de conjunto. A minha preferida, embora não das melhores, estabelece que um conjunto jamais poderá conter a si mesmo como elemento, o que é suficiente para escapar do Paradoxo de Russell, mas não tão boa para a matemática em si. Não entremos nesse mérito.

Quis mostrar duas coisas com este post: Primeiro que uma demonstração formal, para ser considerada válida, deve ser incontestável. E segundo que de nada adianta utilizar uma boa lógica se partimos de definições e suposições inconsistentes.

Falarei mais sobre isso nos futuros posts.

Reflitam, se tiverem paciência pra isso.

* Bertrand Russell já deve ser conhecido por muitos dos possíveis frequentadores deste blog, ou ao menos a sua teoria do bule celestial.

domingo, 20 de setembro de 2009

A que grupo você pertence?

Pra começar, preciso dizer que não sou a favor de nenhum tipo de apartheid. Não se trada disso. O que coloco aqui é apenas uma categorização com relação a posição que cada um de nós assume diante da existência de divindades. É essa categorização que distingue teístas e ateus.

Aparentemente, apenas aparentemente, não resta dúvida quanto a o que vem a ser um ateu, porém alguns ainda estranham o uso dos termos "teísta", "agnóstico" e principalmente o termo "deísta". Eu costumo usar bastante esses quatro termos, pois eles expressam bem a posição do indivíduo quanto à existência de divindades.

Bom, vamos às definições:*

  • Teísta: Indivíduo que crê na existência de uma ou mais divindades, capazes de interferir em nossas vidas, e que atribui a uma ou mais delas a criação do universo e tudo que nele habita. Teístas normalmente são afiliados a alguma religião, respeitam seus dogmas e creem em suas estórias;
  • Deísta: Indivíduo que acredita que alguma divindade tenha sido a criadora do universo e tudo que nele habita, porém não acredita que tal divindade seja capaz de interferir em nossas vidas. Deístas normalmente não são afiliados a religiões, e quando o são, não seguem seus dogmas ou creem em suas estórias;
  • Agnóstico: Indivíduo que, dada a falta de evidencias a favor ou contra a existência de divindades, se posiciona de maneira neutra, ou seja, não nega a possibilidade de tais divindades existirem, mas também não as cultua. Assim como os deístas, os agnósticos normalmente não são afiliados a religiões, e quando o são não seguem seus dogmas ou creem em suas estórias;
  • Ateu: Indivíduo que não crê na existência de quaisquer tipos de divindades. Ateus não são afiliados a nenhuma religião, assim como o ateísmo em si não deve ser considerado uma religião.

Acredito que essas quatro categorias sejam suficientes para classificar qualquer indivíduo, embora algumas subdivisões possam ser feitas:

  • Teísta forte/fanático: Aquele que crê incondicionalmente na existência de divindades e respeita fielmente os dogmas de sua religião, ignorando qualquer evidência que coloque em cheque as suas crenças. Não raramente tais teístas chegam ao ponto de ignorar valores morais e éticos da sociedade em que vivem para defender sua posição, como utilizar-se de desrespeito, ameaças e afirmações preconceituosas, quando não de violência estrita;
  • Teísta moderado/sensato: Aquele que admite que a religião a qual pertence pode ser falha, e usa o bom senso para saber o que considerar real e o que considerar metáfora;
  • Teísta fraco/não praticante: Aquele que afirma pertencer a alguma religião, mas não segue seus dogmas ou crê em suas estórias, na prática agindo como um agnóstico, porém não assumindo tal posição por temer ser vítima de preconceito ou até mesmo de alguma forma de punição divina;
  • Deísta verdadeiro: Aquele que crê sinceramente que o universo foi criado por um ser superior, porém não crê que tal ser continue a existir, seja capaz, ou tenha interesse em intervir em nossas vidas;
  • Deísta falso: Aquele que na verdade não crê na real existência de qualquer divindade, porém assume a posição de deísta deturpando tal conceito. Normalmente isso é feito afirmando-se que a divindade está na natureza, na vida, no amor, porém não a vê como um ser que existe ou tenha existido de fato. A vê apenas como uma forma de energia, que compõe tudo aquilo que hoje existe. Tais indivíduos são na verdade ateus, porém não assumem tal posição pelos mesmos motivos que os teístas fracos não assumem ser agnósticos;
  • Agnóstico fraco/falso: Aquele que teme algum tipo de punição divina, caso negue a existência de divindades, e por isso fica 'em cima do muro', podendo pender para o lado teísta caso sinta necessidade;
  • Agnóstico forte/verdadeiro: Aquele que não teme qualquer punição divina, não crê em nenhuma das supostas evidências da existência de divindades, porém não nega a possibilidade de que tais divindades existam pelo simples fato de não poder provar a sua não existência;
  • Ateu fraco/falso/revoltado: Aquele que se afirma ateu pelo fato de não se ver agraciado por intervenções divinas, porém ainda considera possível a existência de divindades, apenas não as cultua mais, chegando ao ponto de negar que existam, mesmo não tendo absoluta convicção disso;
  • Ateu forte/verdadeiro/convicto: Aquele que possui absoluta convicção de que divindades não existem, não por não se ver agraciado por elas, mas por perceber o quão ínfima é a probabilidade de existência de tais seres.

Eu me sinto orgulhoso em dizer que pertenço ao grupo dos ateus convictos, porém já fui deísta e antes disso teísta, fato que hoje me causa vergonha e tristeza.

E você? A que grupo pertence?

* Devo ressaltar que tais definições não são definições oficiais obtidas de algum dicionário ou enciclopédia, mas sim as definições que o autor deste blog dá a tais termos.

sábado, 12 de setembro de 2009

Apresentação

Durante esses dez anos desde que me tornei ateu, e até mesmo um pouco antes disso, me envolvi em muitas discussões, algumas acaloradas, via internet e também pessoalmente, com evangélicos, católicos, agnósticos e ateus, acerca do tema religião.

No início tais discussões me fascinavam. Me via de fato numa posição privilegiada por enxergar aquilo que a maioria não via.
Porém após algum tempo, qualquer tema já se mostrava recorrente. Qualquer argumento já era conhecido, assim como suas tentativas de refutação, por ambas as partes.
Muitas vezes, como disse o Barros, autor do blog DeusILUSÃO, em seu post de apresentação, sentimos falta de poder simplesmente dizer: leia isto, evitando assim discorrer novamente sobre um assunto, pra nós, tão batido.

Essa é uma das motivações para a criação deste blog, porém não a principal. A minha principal motivação é deixar registrado, para mim, para meus descendentes, para aqueles que gostarem do tema, as minhas opiniões sobre as questões que permeiam esse assunto tão polêmico, dentre outros, pois não falarei exclusivamente sobre religião.

Pretendo realizar postagens quinzenais, talvez mensais, porém buscarei trabalhar ao máximo os meus textos, sendo bem claro, objetivo e completo. E apesar de não ser um objetivo meu conquistar leitores, me esforçarei para isso.

Espero que gostem.