sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

O Calendário Laico

Já há alguns anos uma reformulação do calendário usado no ocidente, em detrimento do atual Calendário Gregoriano, é um assunto que muito me interessa. Não por ter sido o calendário gregoriano estabelecido pela Igreja, mas por ser um calendário dotado de uma matemática muito ruim e formado por ciclos irregulares e incondizentes com os ciclos da natureza.

Na natureza os ciclos de tempo mais relevantes, na Terra obviamente, são os dias, de 24 horas e os anos, de aproximadamente 365 dias. Aproximadamente, porque na verdade um ano é composto por 365,2422 dias. Há também os ciclos da lua, mas estes também são irregulares mantendo em média 29,5 dias de duração e nenhuma correlação com os 365,2422 dias do ano.

Nosso calendário atual estabelece meses com quantidade de dias variados, de 28 a 31 dias, além de sua subdivisão em semanas também de forma bastante irregular, variando ano após ano. Há também a questão do ano bissexto, que é necessário para corrigir o arredondamento na contagem de dias de um ano para 365 ou 366 dias exatos.

Diante das tantas irregularidades, ainda antes de me tornar ateu e matemático, e ainda desconhecendo as imprecisões da natureza, já imaginava se não havia um modo de estabelecer um calendário que fosse mais coerente.

Nas pesquisas que realizei recentemente, o melhor calendário que encontrei é o chamado Calendário da Paz, baseado nos Calendários Maias. No entanto os promotores de tal calendário vinculam o equilíbrio matemático do calendário a questões místicas e astrológicas, sem nenhuma relação lógica de causa-efeito, o que acaba por encher o movimento de descrédito, além de deixar tudo mais complicado e relacionado diretamente à religião, o que o torna menos aceitável, uma vez que não é completamente laico.

Por tal calendário, cada dia continua tendo 24 horas e cada semana continua tendo 7 dias. Cada mês é composto de exatamente 4 semanas, ou seja 28 dias, e cada ano é composto por 13 meses. Ao fim de cada ano é acrescentado um dia extra, que não pertence a nenhum mês ou semana. Tal dia é denominado o dia fora do tempo, e corresponde ao dia 25 de Julho no calendário gregoriano. Além disso, cada ano e mês, além das semanas, começam sempre em um Domingo e terminam sempre em um Sábado e também os ciclos da Lua e, desta fez por pura coincidência, também o ciclo menstrual da mulher se aproximaram bastante do periodo de um mês, 28 dias.

Tudo muito bonito e simples, a menos do dia extra fora do tempo, a questão do arredondamento na contagem de dias do ano, que aparentemente não foi resolvida, e o início do ano no dia 26 de Julho do calendário gregoriano.

O início do ano no dia 26 de Julho foi assim definido pelos Maias por ser este o dia em que a estrela Sirius nasce no horizonte alinhada ao Sol.

O dia fora do tempo foi assim definido por uma razão simples: Com 364 dias, o ano termina um dia antes do próximo nascimento da estrela Sirius em alinhamento com o Sol, portanto deve-se esperar um dia para que tal evento aconteça e um novo ano seja iniciado.

A questão do ano bissexto é mais complicada. Como a Terra demora cerca de 5 horas, 48 minutos e 46 segundos a mais que 365 dias para dar uma volta completa em torno do Sol, a cada 4 anos o calendário gregoriano atrasa aproximadamente um dia, por isso é necessário um dia a mais a cada quatro anos para sincronizá-lo. Sem tal sincronização, as estações do ano iriam lentamente se deslocar durante os anos, podendo ser verão em um ano durante os meses em que era inverno algumas décadas antes.

Seria bom poder dizer que como o calendário maia não possui uma contagem de meses irregular, como acontece com o calendário gregoriano, tal deslocamento sazonal não ocorre, dispensando a necessidade do dia extra a cada 4 anos. Mas isso seria falso. O calendário Maia não resolve esse problema, mantendo o deslocamento.

No caso da adoção de um calendário como este, 13 meses de 28 dias, com um dia fora do tempo e o início do ano no alinhamento de Sirius com o Sol no horizonte, nem mesmo uma inclusão de um dia a mais a cada 4 anos seria possível, uma vez que isso faria com que o evento astrológico que marca o início dos anos se deslocasse, ao invés das estações.

Isso nos coloca em um dilema:

- Permitir o deslocamento das estações ao longo dos anos, 1 dia a cada 4 anos e usar um outro método ou calendário para determinar exclusivamente o início e fim das estações sazonais; ou

- Abrir mão do alinhamento Sirius-Sol como referencial e adicionar 1 dia ao ano a cada 4 anos, tendo assim 2 dias fora do tempo a cada 4 anos, preservando a distribuição das estações durante o ano com a mesma imprecisão que temos hoje.

Com todas as regras de arredondamento de anos bissextos que temos hoje, o ano é arredondado para 365,2425 dias, e não para os 365,2422 que correspondem ao ano trópico. Continuamos perdendo 25,92 segundos a cada ano, o que equivale a 1 dia de atraso a cada 3000 anos.

Difícil escolha, mas eu fico com a primeira opção, pela sua pureza matemática, embora eu reconheça que seria difícil convencer as nações cristãs a admitirem um calendário em que os principais feriados religiosos, além das estações do ano, se deslocariam um dia a cada quatro anos.

Restaria também definir os nomes para os dias da semana, que poderiam até ser mantidos, os nomes para os meses e um nome para o dia fora do tempo, que também poderia continuar sendo chamado assim.

Obviamente não tenho a mínima esperança em ver um calendário como este ser instituído no ocidente, mas seria muito interessante.