terça-feira, 2 de março de 2010

Pede 'bença' pro seu tio 'mininu'.

Quantas vezes eu não levei esse puxão de orelha quando criança? E sempre me neguei. Sempre levando mais bronca por isso.

Pra começar, eu não entendia o que significava pedir a tal 'bença'. Quando mais velho fui notar que se tratava de pedir a benção divina ao tio, ou tia. Mas ainda assim eu não compreendia por que raios eu deveria pedir tal benção aos meus tios. Eu notava, claro, que tal gesto se tratava de um cumprimento, um sinal de respeito, mas isso só reforçava a minha dúvida. Por que não dizer apenas um 'Oi, Tudo bem? Como tem passado?'

Na verdade, quando criança, eu era absurdamente tímido, e não compreender a natureza de tal gesto me deixava ainda mais acanhado. Me sentia meio idiota, fazendo algo sem propósito, sem sentido. Até hoje eu nem mesmo chamo os meus tios de tios. Os trato pelos nomes, e acho que há alguma relação nisso. Estranho isso, mas sempre fui assim.

Ironia depois de tanto tempo me negando a pedir a tal "bença" aos meus tios, quando maduro, eu acabar me tornando ateu.

É aquela questão: Todos nascemos ateus, e somos então convencidos, induzidos, ou até forçados, a seguir um determinado conjunto de mitos, rotulados como religião. Eu, de certa forma, nasci com uma maior resistência intelectual a tais assédios, e me sinto muito orgulhoso por isso.

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Estórias engraçadas da Bíblia

Divertida série de animação satirizando estórias bíblicas, embora bastante fidedignas aos relatos originais.
Assim que disponíveis, atualizarei a lista com os novos capítulos.

sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

O Calendário Laico

Já há alguns anos uma reformulação do calendário usado no ocidente, em detrimento do atual Calendário Gregoriano, é um assunto que muito me interessa. Não por ter sido o calendário gregoriano estabelecido pela Igreja, mas por ser um calendário dotado de uma matemática muito ruim e formado por ciclos irregulares e incondizentes com os ciclos da natureza.

Na natureza os ciclos de tempo mais relevantes, na Terra obviamente, são os dias, de 24 horas e os anos, de aproximadamente 365 dias. Aproximadamente, porque na verdade um ano é composto por 365,2422 dias. Há também os ciclos da lua, mas estes também são irregulares mantendo em média 29,5 dias de duração e nenhuma correlação com os 365,2422 dias do ano.

Nosso calendário atual estabelece meses com quantidade de dias variados, de 28 a 31 dias, além de sua subdivisão em semanas também de forma bastante irregular, variando ano após ano. Há também a questão do ano bissexto, que é necessário para corrigir o arredondamento na contagem de dias de um ano para 365 ou 366 dias exatos.

Diante das tantas irregularidades, ainda antes de me tornar ateu e matemático, e ainda desconhecendo as imprecisões da natureza, já imaginava se não havia um modo de estabelecer um calendário que fosse mais coerente.

Nas pesquisas que realizei recentemente, o melhor calendário que encontrei é o chamado Calendário da Paz, baseado nos Calendários Maias. No entanto os promotores de tal calendário vinculam o equilíbrio matemático do calendário a questões místicas e astrológicas, sem nenhuma relação lógica de causa-efeito, o que acaba por encher o movimento de descrédito, além de deixar tudo mais complicado e relacionado diretamente à religião, o que o torna menos aceitável, uma vez que não é completamente laico.

Por tal calendário, cada dia continua tendo 24 horas e cada semana continua tendo 7 dias. Cada mês é composto de exatamente 4 semanas, ou seja 28 dias, e cada ano é composto por 13 meses. Ao fim de cada ano é acrescentado um dia extra, que não pertence a nenhum mês ou semana. Tal dia é denominado o dia fora do tempo, e corresponde ao dia 25 de Julho no calendário gregoriano. Além disso, cada ano e mês, além das semanas, começam sempre em um Domingo e terminam sempre em um Sábado e também os ciclos da Lua e, desta fez por pura coincidência, também o ciclo menstrual da mulher se aproximaram bastante do periodo de um mês, 28 dias.

Tudo muito bonito e simples, a menos do dia extra fora do tempo, a questão do arredondamento na contagem de dias do ano, que aparentemente não foi resolvida, e o início do ano no dia 26 de Julho do calendário gregoriano.

O início do ano no dia 26 de Julho foi assim definido pelos Maias por ser este o dia em que a estrela Sirius nasce no horizonte alinhada ao Sol.

O dia fora do tempo foi assim definido por uma razão simples: Com 364 dias, o ano termina um dia antes do próximo nascimento da estrela Sirius em alinhamento com o Sol, portanto deve-se esperar um dia para que tal evento aconteça e um novo ano seja iniciado.

A questão do ano bissexto é mais complicada. Como a Terra demora cerca de 5 horas, 48 minutos e 46 segundos a mais que 365 dias para dar uma volta completa em torno do Sol, a cada 4 anos o calendário gregoriano atrasa aproximadamente um dia, por isso é necessário um dia a mais a cada quatro anos para sincronizá-lo. Sem tal sincronização, as estações do ano iriam lentamente se deslocar durante os anos, podendo ser verão em um ano durante os meses em que era inverno algumas décadas antes.

Seria bom poder dizer que como o calendário maia não possui uma contagem de meses irregular, como acontece com o calendário gregoriano, tal deslocamento sazonal não ocorre, dispensando a necessidade do dia extra a cada 4 anos. Mas isso seria falso. O calendário Maia não resolve esse problema, mantendo o deslocamento.

No caso da adoção de um calendário como este, 13 meses de 28 dias, com um dia fora do tempo e o início do ano no alinhamento de Sirius com o Sol no horizonte, nem mesmo uma inclusão de um dia a mais a cada 4 anos seria possível, uma vez que isso faria com que o evento astrológico que marca o início dos anos se deslocasse, ao invés das estações.

Isso nos coloca em um dilema:

- Permitir o deslocamento das estações ao longo dos anos, 1 dia a cada 4 anos e usar um outro método ou calendário para determinar exclusivamente o início e fim das estações sazonais; ou

- Abrir mão do alinhamento Sirius-Sol como referencial e adicionar 1 dia ao ano a cada 4 anos, tendo assim 2 dias fora do tempo a cada 4 anos, preservando a distribuição das estações durante o ano com a mesma imprecisão que temos hoje.

Com todas as regras de arredondamento de anos bissextos que temos hoje, o ano é arredondado para 365,2425 dias, e não para os 365,2422 que correspondem ao ano trópico. Continuamos perdendo 25,92 segundos a cada ano, o que equivale a 1 dia de atraso a cada 3000 anos.

Difícil escolha, mas eu fico com a primeira opção, pela sua pureza matemática, embora eu reconheça que seria difícil convencer as nações cristãs a admitirem um calendário em que os principais feriados religiosos, além das estações do ano, se deslocariam um dia a cada quatro anos.

Restaria também definir os nomes para os dias da semana, que poderiam até ser mantidos, os nomes para os meses e um nome para o dia fora do tempo, que também poderia continuar sendo chamado assim.

Obviamente não tenho a mínima esperança em ver um calendário como este ser instituído no ocidente, mas seria muito interessante.

quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

A impotente onipotência

No último post falei um pouco sobre o valor de uma boa definição, e apresentei a minha definição, formada enquanto ainda cristão, do que seria Deus.

Embora algum cristão possa discordar da definição que apresentei para seu deus, dificilmente ele daria uma outra definição que não incorporasse as três características básicas de tal ser: onisciência, onipresença e onipotência.

Como eu havia dito no post anterior, basta que uma única inconsistência seja encontrada em uma dada definição para que a mesma deixe de ser considerada válida. Tal inconsistência pode ser o uso de alguma conjectura, ainda não provada verdadeira, ou uma afirmação paradoxal, por exemplo.

Todos os leitores já devem conhecer o Paradoxo da Onipotência. E claro já devem ter conhecido alguma das diversas tentativas cristãs de invalidar ou contornar tal paradoxo, uma vez que ele torna a definição de seu deus fundamentalmente inválida.

Se considerarmos o conceito mais intuitivo que se tem da palavra onipotência, diríamos que
Onipotência é a capacidade de se fazer qualquer coisa. Absolutamente tudo.
e é esse o conceito que vem a mente de praticamente todo cristão, quando o mesmo pensa em seu deus. No entanto tal conceito é inconsistente.
Pode um ser onipotente criar algo que ele mesmo não seja capaz de destruir?

Se ele não pode criar tal algo, então ele não é onipotente.
Mas se ele pode criar tal algo, então ele não é capaz de destruí-lo, logo também não é onipotente.
Proposições como essa provam a impossibilidade lógica de se definir um ser como sendo onipotente. Seres onipotentes não existem.

Paradoxos como esse surgem vez ou outro em teorias científicas. Algumas vezes anos após tais teorias terem sido aceitas pela comunidade científica. Mas quando isso ocorre dentro de uma teoria científica, a mesma torna-se inválida até que seja apresentada uma solução para o problema, como foi o caso do Paradoxo de Russell, já citado no post anterior. No entanto as religiões não aceitam correções em suas definições, por mais absurdas que possam parecer. Até porque isso poderia de fato destruí-las pouco a pouco.

As melhores justificativas cristãs que já ouvi para permitir que seu deus ainda seja visto como onipotente, uma vez constatado tal paradoxo, recorrem a suavização do conceito de onipotência, condicionando tal capacidade, excluindo os casos complicados, como por exemplo afirmando que
Deus é capaz de tudo, exceto aquilo que viole o paradoxo da onipotência.
Honesto ao menos, no entanto isso não seria mais onipotência. Seria uma semi-onipotência. Além disso tais suavizações não são consideradas pelos cristãos ao dizerem ser o seu deus onipotente. Até porque a maioria desconhece tal problema. E quando diante dele, simplesmente ficam sem saber o que dizer, recorrendo a explicações estapafurdias, como as muitas que se pode ver na seção tentivas de resolução neste artigo, ou como a descontraída explicação do famoso caçador de ateu e filosofo.

Obviamente nenhum cristão aceitará que tal paradoxo descaracterize seu deus, negando-o ou ignorando-o, no entanto para qualquer pessoa que esteja disposta a aceitar as evidências, fica claro que o deus cristão, onipotente, de fato não existe.

domingo, 27 de dezembro de 2009

O valor de uma boa definição

É difícil para pessoas racionalistas ao extremo, como nós matemáticos por exemplo, aceitar qualquer conceito que não esteja suficientemente bem definido.

É justamente de inconsistências conceituais que parte a maioria dos questionamentos que fazemos, assim como sua posterior verificação.

Se for dada a um matemático a sequência:
0, 1, 1, 2, 3, 5, 8 e 13
e lhe for perguntado qual deveria ser o próximo número da sequência, ele provavelmente lhe diria supor ser o número 21, mas também lhe diria que não é possível afirmar com certeza, uma vez que não fora informado qual o método usado para gerar tal sequência.

Quando um ateu questiona a existência de divindades, ele normalmente toma como base as definições populares dadas às divindades que questiona, ou então toma como referência o conceito genérico de divindade.

Algumas divindades são bem definidas, ainda que apresentarem inconsistências lógicas facilmente observáveis.

Hércules por exemplo, era tido como um semi-deus, meio humano e meio deus, no entanto era uma divindade razoavelmente bem definida.

O deus cristão, normalmente denominado apenas Deus, não teve a mesma sorte. Nenhuma boa e completa definição de Deus nos foi dada. As melhores que já obtive foram sempre fragmentadas, e a maior evidência disso é o fato de nem mesmo os cristãos chegarem a um consenso quanto a ela.

Obviamente, como ex-cristão e ateu, tenho minha definição de Deus, formada com base justamente nos inúmeros fragmentos que fui colhendo durante o tempo em que me dediquei a cultuar tal ser.

Esta é a definição que tenho hoje de Deus:
Personagem principal da mitologia cristã. A ele são atribuídos os poderes de onipresença, onisciência e onipotência, uma existência perpétua para antes e depois da criação do Universo, a própria criação do Universo e obviamente tudo que o compõe, a propriedade sobre as vidas e almas humanas, assim como tudo mais que possa existir e o direito de realizar num futuro incerto o julgamento das almas humanas, com base em suas atitudes e sua servidão a ele enquanto em vida. Também são considerados fidedignos os relatos bíblicos a seu respeito, sendo os quatro evangelhos de Jesus Cristo os principais.

Acredito que a maioria dos cristãos endossariam facilmente tal definição, embora provavelmente acrescentassem alguns detalhes e removessem a parte que refere a ele como um ser mitológico. Até porque todo o restante da definição foi formado enquanto eu ainda era cristão*.

Para um racionalista, não é difícil enxergar inconsistências lógicas em tal definição. Principalmente se considerados os inúmeros relatos bíblicos que são tidos como fidedignos pelos cristãos.

Caso o racionalista que esteja a observar tais inconsistências seja um cristão, ele terá que optar por ignorá-las pura e simplesmente, questioná-las a fundo e terminar no mínimo deixando de ser cristão, ainda que não se torne ateu, ou tentar justificá-las desesperadamente em defesa de seu deus.

Isso aconteceu comigo, ao longo de alguns anos, na verdade ao longo de toda a minha vida, até que finalmente me vi completamente ateu.

Embora sejam muitas as características de tal definição que pareçam inconsistentes, ou ao menos vagas, por se tratar de uma definição, basta que uma única inconsistência seja encontrada para que ela deixe de ser uma definição válida. É assim para qualquer análise lógica, a respeito de qualquer definição. Veja por exemplo o Paradoxo de Russell.

Aos poucos fui percebendo as inconsistências na definição que eu tinha de Deus, e que aparentemente era compartilhada pela sociedade na qual eu vivia. A cada inconsistência encontrada, eu alterava tal definição de modo a torná-la consistente. Removia características que eu considerava ilógicas. Até que em um dado momento percebi que eu não poderia mais me considerar cristão, uma vez que o deus no qual eu cria não era mais o deus cristão. Após algum tempo percebi que tal deus de fato não existia mais, ou se existia não era mais capaz de interceder por nós. As evidências me convenciam mais e mais disso a cada dia, até que me vi não mais teísta, mas apenas deísta.

Com uma definição de Deus tão pessoal e cada vez mais reduzida, em um dado momento ela simplesmente se foi por completo. A partir de tal momento eu adotei novamente a definição original e acrescentei o caráter mitológico a ela.

Provar a inexistência de um criador universal é bem diferente de provar a inexistência de uma divindade em particular. E para provar a inexistência de uma divindade em particular, basta encontrarmos e demonstrarmos formalmente uma única inconsistência que seja em sua definição.

Após isso a existência de tal divindade ainda seria possível, mas sua definição não poderia mais ser a mesma. Ela teria de perder um pouco de si para se manter crível. E dificilmente sobreviveria a mais algumas análises.

Infelizmente isso também se aplica ao Deus cristão. E podemos demonstrar que, tal como definido pela própria mitologia cristã, tal divindade não se mostra crível o suficiente para ser considerada mais que um mero mito. Ao lado de Hercules, Zeus, Shiva, Iemanjá, Odin e tantos outros.

* Caso algum cristão queira apresentar uma definição melhor, agradeço de antemão.

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Bones

Ateus famosos existem muitos, assim como também existem na ficção.

Nesta breve postagem quero falar sobre a personagem Dr. Temperance "Bones" Brennan, da série de TV Bones.



Dr. Brennan é uma antropologista forense totalmente cética, centrada na lógica, e que tem como parceiro o agente do FBI, cristão, Seeley Booth, com o qual tem ótimas discussões acerca dos temas religião e sobrenatural*.

Pra quem gosta do assunto, valeria a pena conferir só por isso, mas a série como um todo é excelente.

Fica a indicação.

* Veja por exemplo os dois primeiros episódios da segunda temporada. O primeiro, a partir do minuto 39 e o segundo a partir do minuto 33.

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Dados sobre a distribuição religiosa no mundo

Alguns dados, datados de agosto de 2007, a cerca da distribuição religiosa no mundo.
Grupo
Adéptos (Milhões)
%
Cristianismo
2100
32.14%
Islã
1500
22.96%
Ateus/agnósticos/sem religião
1100
16.84%
Hinduísmo
900
13.78%
Religiões tradicionais chinesas
394
6.03%
Budismo
376
5.76%
Religiões tradicionais africanas
100
1.53%
Outras
63
0.96%
TOTAL
6533
100.00%

Fonte: http://www.adherents.com/Religions_By_Adherents.html